terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Recomendações para o processo de ensino-aprendizagem para crianças autistas

Nesta terça-feira, dia 22/02, a formação para os professores do AEE teve como tema o Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), fornecendo informações a respeito das características, análise de casos e recomendações para o processo ensino-aprendizagem.

Recomendações para o Processo Ensino-Aprendizagem

Como é sabido e regra geral, as crianças autistas apresentam dificuldades ao nível da comunicação e da socialização.

O ensino inclusivo na escola regular deverá estar preparado para que os alunos com autismo ou com necessidades educativas especiais possam desenvolver-se como cidadãos, assim como deve estar preparado para que estes possam adquirir novas competências.

Infelizmente, e devido às carências existentes na escola regular, por vezes surge a necessidade de recorrer aos estabelecimentos de ensino especial.
Os professores reconhecem que aquele aluno “é diferente” sem que consigam apontar com clareza a natureza dessa diferença. Certo é que estes alunos podem ler com muita rapidez e correcção sem contudo compreender os conceitos implícitos no texto.
As composições escritas são extremamente lacónicas, absolutamente factuais como se de um inventário se tratasse. As operações matemáticas são realizadas com extrema rapidez e facilidade mas o enunciado dum problema não é compreendido.
Podemos definir como objectivos prioritários de intervenção: a promoção do desenvolvimento global do aluno e de competências específicas; informar e auxiliar os encarregados de educação a implementar estratégias para melhor lidarem com o seu educando; informar/sensibilizar a escola e a comunidade em geral acerca das características destas crianças e jovens, no sentido de estabelecer parcerias que contribuam para a sua aprendizagem, adaptação e inclusão social.
Como tal é necessário que os professores, educadores e restante comunidade educativa estejam preparados para trabalhar com este tipo e alunos.

Seria imperioso que se apostasse na formação e na sensibilização de toda a comunidade educativa e no apetrechamento das escolas, ao nível de recursos materiais, espaciais e humanos, assim como seria importante que estes alunos beneficiassem de uma equipa multidisciplinar que englobasse: professores, educadores, psicólogos, terapeutas, educadora/o social, entre outros - trabalho desenvolvido por estes deve de ser efectuado em equipa, ao nível da programação, aplicação e avaliação.

Para elevar o grau de sucesso o número de alunos por turma deveria ser reduzido, deveriam existir professores de apoio nas respectivas áreas ou disciplinas, a programação e a avaliação deveriam ser individuais, no sentido de definir quais os comportamentos a modificar, quais as áreas a trabalhar, assim como, para melhor identificar as aquisições e as dificuldades.
Deve de ser concebido um plano de intervenção adequado ao aluno de forma a possibilitar um tratamento personalizado e específico, satisfazendo as capacidades e ritmo de cada um.

As sessões de trabalho devem ser curtas e o aluno deve ser encorajado nas actividades propostas.

Os conceitos a abordar devem ser repetidos várias vezes e sempre da mesma maneira, contudo devemos inovar e variar sempre que possível.

Para que melhor se desenvolvam as capacidades do aluno, pudemos a áreas como: psicomotricidade, expressão musical, expressão dramática, informática, educação física, dança, expressão plástica, formação pessoal e social, actividades da vida diária, áreas vocacionais, entre outras…

Estas áreas serão importantes para auxiliar o aluno a desenvolver-se ao nível da expressão, socialização, para ultrapassar os comportamentos ritualistas e compulsivos, para elevar a auto-estima, assim como para proporcionar um desenvolvimento académico equilibrado e harmonioso.

Qualquer professor, educador, técnico, ou encarregado de educação necessitará de bastante paciência para trabalhar com uma criança autista, devendo aceitar e reconhecer as suas “limitações” e respeitar a “lentidão” dos seus progressos. Para isso deverão trabalhar com a criança autista por etapas.

O contacto frequente dos encarregados de educação com a escola é de extrema importância para o desenvolvimento da criança, no sentido da sua participação activa no contacto e trabalho com a equipa multidisciplinar, de forma a obter informações acerca das evoluções e dificuldades do seu educando, conhecendo e colaborando em casa com o trabalho efectuado na escola.

Deverão ser desenvolvidas actividades em que a participação dos professores, educadores, técnicos e encarregados de educação seja uma realidade, trabalhando em conjunto no âmbito da socialização, da imitação, da motricidade, da linguagem, da coordenação… De forma a promover uma evolução significativa das capacidades do aluno.

Existem autistas com um QI baixo, normal e algumas crianças são bastante inteligentes. É importante conhecer as aptidões e os interesses da criança, para aproveitá-los posteriormente, como instrumentos académicos – de modo a superar ao máximo as suas dificuldades.

Infelizmente, o Autismo ainda origina alguns problemas que prejudicam o desenvolvimento e a integração das crianças e jovens com esta problemática, como: o desconhecimento por parte da sociedade das características básicas do Autismo – o que dificulta o seu diagnóstico; a ausência de locais especializados que ofereçam o tratamento e o apoio necessários; a carência de escolas onde estas crianças possam estar devidamente integradas.

Estes factores tornam-se lamentáveis e prejudicam o desenvolvimento da criança autista, uma vez que estas crianças podem alcançar um bom nível de progresso se houver um diagnóstico precoce e um tratamento oportuno.

O trabalho repetido e a estimulação contínua contribuirão para o progresso e evolução das capacidades da criança autista ao nível pessoal e social.

Em suma, há que procurar compreender os comportamentos autistas e estipular objectivos a atingir, estimulando e acompanhando a criança/jovem no seu processo de desenvolvimento e de aprendizagem e contribuindo para a sua integração plena na sociedade.
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Autoria:
António Araújo (Professor)
José Santos (Professor)


COMO TRABALHAR COM AUTISTAS
DISTURBIOS DE COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
O inicio do desenvolvimento da linguagem caracteriza-se por mudez ou ecolalia. A fala não é usada para comunicação com ausência ou pobreza de comunicação não-verbal. Na maioria dos pacientes, nem a expressão facial e nem os gestos são usados como formas de comunicação. A fala para fins de comunicação, quando ocorre, não apresenta diferentes entonações, é arrítimica, sem inflexões e não transmite emoções. Em crianças autistas, mais velhas a comunicação é pouco espontânea e original.
CODISTURBIOS EM RELAÇÃO A OBJETOS
As crianças autistas de pouca idade usam objetos inanimados quase que exclusivamente para gira-los ou sacudi-los. Mostram uma tendência para enfileirar ou arrumar esses objetos sempre da mesma maneira, dando a impressão der querer manter seu ambiente sempre igual, sem variações. Mais tarde passam a fazer uso ritualizando desses objetos em atitudes repetitivas. Apresentam graves deficiências nas brincadeiras simbólicas e são incapazes de usar brinquedos e outros objetos de forma imaginativa.
DISTURBIOS DA MODULAÇAO SENSORIAL
A incapacidade de modular adequadamente os impulsos sensoriais é bem mais evidente quando são mais novos. Todas as modalidades sensoriais estão afetadas e a modulação adequada dos impulsos sensoriais manifesta-se tanto por falta de reações quanto por reações exageradas acompanhadas de auto-estimulação sensorial.
A hiporreatividade a estímulos auditivos evidencia-se pelo aparente descaso tanto a comandos verbais quando a ruídos fortes. Barulhos súbitos que poderiam assustar qualquer um; para os autistas pode não acontecer nenhuma reação. Em termos de visão, a criança pode ignorar a presença de novas pessoas na sala ou objetos em seu ambiente e passar por cima deles, como se não existissem. Às vezes, deixam cair objetos colocados em suas mãos, como se não tivessem percepção tátil. Estímulos dolorosos, como pancadas, cortes e contusões freqüentemente são ignorados.
No entanto também pode ocorrer o contrário, com reações exageradas à estes mesmos estímulos sensoriais. Podem apresentar uma percepção muito aguçada em detalhes ao ponto de se distraírem e as vezes, uma sensibilidade muito aumentada em estímulos sensoriais que elas próprias buscam e induzem. Alguns distúrbios de mobilidade podem produzir intensa estimulação sensorial. Para introduzirem estímulos auditivos esfregam, batem ou ficam puxando as orelhas, rangem os dentes ou aranham, batem e “batucam”, em superfícies.
Em termos de visão, elas ficam olhando os movimentos de seus dedos e suas mãos e observam fixamente, os detalhes das superfícies. Estímulos são obtidos por movimentos do corpo, em balanços para frente e para trás e para os lados ou por movimentos circulares da cabeça. Contrastando com a busca de estímulos sensoriais, existe um paradoxal desconforto causado por estímulos em todas as modalidades sensoriais. Podem agitar-se com o som de sirenes, aspirador de pó, liquidificador, latidos e chagam a tapar os ouvidos para evitar a intensidade desse sons e, as vezes reagem igualmente à ruídos leves como o simples ruído de amassar um papel.
Mudanças bruscas de iluminação ou encontro inesperado com um objeto também podem provocar as mesmas reações de medo demonstradas anteriormente. Quanto ao tato, podem demonstrar aversões a determinados tecidos como a lã, Poe exemplo. Normalmente preferem superfícies lisas (seda, cetim). Nos dois primeiros anos de vida, até a alimentação com consistência áspera, normalmente provoca mal-estar.
Aversão a estímulos vestibulares podem ser induzida por lutas de brincadeira ou até andar em elevador. Os distúrbios de modulação sensorial e de mobilidade ocorrem principalmente entre 24 e 60 meses de idade.
Exemplos: tanto a hipo-reatividade , quanto a hiper-reatividade a sons também são considerados como sintomas dos distúrbios de linguagem.
DISTURBIOS DA MOBILIDADE
Ocorrem principalmente em crianças de pouca idade. Os maneirismos são complexos, ritualísticos e estereotipados e não parecem ser totalmente voluntários, ocorrendo de forma intermitente ou continua. Diversos movimentos dos dedos das mãos na frente dos olhos podem-se transformar num movimento estereotipado e repetitivo. A criança flexiona ou estende os dedos ou as mãos ou alterna a provação e superação do antebraço. O andar nas pontas dos pés ocorrem em estações de excitação quando começam a nadar em círculos ou como modalidade exclusiva do caminhar.
Movimentos bruscos do tronco ou de todo o corpo aparecem, muitas vezes acompanhados por movimentos giratórios e pancadas na cabeça, embora com esta atividade motora, bastante perturbada, as crianças autistas não são, necessariamente hipertivas, apesar de em alguns casos a hiperatividade seja o sintoma mais importante. Em crianças ainda podem ocorrer episódios súbitos e breves de imobilidade.
Condições associadas ao autismo – as principais condições patológicas encontradas associadas ao autismo são: retardo mental, síndromes cerebrais orgânicas (com ou sem convulsões) e uma historia de ocorrências anormais nos períodos pré e neonatal.
 

PRINCIPAIS ASPECTOS A SREM CONSIDERADOS
1. A comunicação (receptiva e expressiva);
2 . A atenção e concentração;
3 . O comportamento;
4 . As AVD’s
A programação será introduzida a medida que o desempenho da pessoa permitir.

COMUNICAÇÃO
* Principal meta;
* Dela consigo mesma, com as pessoas, com o mundo, com os acontecimentos e com os objetos;
* A mais fácil é com os objetos porque eles não mudam;
* A linguagem verbal normalmente não faz sentido para autistas;
* Outras formas de comunicação precisam ser encontradas;
* O autista tem mais chance de aprender o significado se usarmos poucas palavras e sempre as mesmas;
* É importante ensiná-los a usar gestos;
* Muitas tentativas de comunicação não são percebidas pelos padrões sociais;
* A pessoa que interage com ele deve ser sensível capaz de um processo de empatia;
* Emitar um gesto estereotipado, as vezes funciona para estabelecer contato;
* Porém estimular para que ele se comunique;
* Devemos estar atentos para as oportunidades;
* Sempre observar e estudar o desempenho da criança;
* Para conseguir contato as vezes são necessárias atitudes extremas.
Ex: Apagar a luz e iluminar o rosto, colocá-lo na cadeira de um jeito que não possa fugir e segurar o rosto...

A ATENÇÃO
* A falta de atenção pode estar ligada a causas fisiológicas ou neuropatológicas.
* Como educadores devemos tentar:
- Manipular a hiperatividade;
- Intervir para reduzir o alheiamento;
- Estimular as percepções sensoriais;
- Sensibilizá-lo para o seu próprio corpo;
- Guiando-o através de ajuda física p/ que execute movimentos;
- Promover a focalização do olhar;
- Eliminar possibilidade de distração;
- Explorar motivação;
- Aprofundar interações
(Ex. tirar um objeto de suas mãos e devolvê-lo em seguida, aumentando gradativamente o tempo de retenção do objeto para ver se ele procura.)
*   As atividades precisam proporcionar sucesso a curto prazo, caso contrário não estimularam novas tentativas;
*   A música é um elemento muito importante;
*   A percepção auditiva dos autistas é muito peculiar;
*   Os autistas são muito seletivos, assim uma figura c/ muito pormenores poderá confundi-lo;
*   Assim precisamos começar com um sentido ou percepção para depois fazer outras integrações;
*   Por esta razão o professor deve ficar por trás do aluno, enquanto vai surgindo as atividades e dando ajuda física necessária.



















COMPORTAMENTO
- Os autistas costumam ter comportamentos que dificultam sua integração social. Podem apresentar negativismo tão acentuado que se recusam até sair do chão, a sentar-se ou a comer;
- Mas, nenhum comportamento é eterno;
- As vezes este comportamento estranho é a única maneira de expressão, de se sentirem vivos. Pela dificuldade de comunicação custam a aprender e manifestar outras maneiras.
- Para tentar controlar os problemas de comportamento devemos:
* Limitar as oportunidades para que os problemas aconteçam;
* Analisar o comportamento atípico;
* Planejar a atitude face o problema e verificar que todas as pessoas tenham a mesma postura;
* Manter consistência e coerência;
* Redirecionar se for necessário mas só após consulta ao grupo;
* Fomentar um comportamento alternativo para substituir o indesejável como estratégia de passagem para alcançar o comportamento desejado;
* Manter registro das observações para não perder de vista a evolução do caso;
* No caso de auto-agressão, considerar a possibilidade de tratar-se de falta de estímulo ou incapacidade de responder ao estímulo;
* Reforçar positivamente os bons comportamentos, quando não existirem dar um intervalo nos demais comportamentos, só criar saldo positivo;
* Dar um tempo para ele, pois precisa de momentos de descanso a essa “invasão”, mas nunca deixá-lo entregue ao isolamento;
* A hiperatividade melhora quando contida – dar tarefas;
* Os comportamentos compulsivos diminuem com as tarefas;
* As crises de birras não podem ser valorizadas;
* É preciso certificar-se de que a negatividade do autista não tem uma razão;
* Os autistas tem um limiar baixo para frustração – quanto mais ele se fechará em seus rituais e maneirismos;
* Quando toma medicação que interfere em seu comportamento, é importante registrar as alterações para subsídios ao médico;
* Todas as atividades terão de ser pacientemente ensinadas assim como o uso funcional dos brinquedos. Ele não simboliza e dificilmente vai saber que fazer com o brinquedo.











O TREINO DAS AVD’s
*   O estabelecimento de atos higiênicos são importantes para que consiga integrar-se até mesmo em sua casa;
*   É necessário uma rotina diária, estruturada para que esses hábitos sejam assimilados e estabelecidos;
*   O programa deve ser baseado em:
- Rotina
- Conservação
- Estruturação
* A rotina é importante para que ele saiba o que vai acontecer em seguida.
* A estruturação dá consistência ao trabalho.
* Quando algumas aquisições forem alcançadas, precisamos conservá-las da reaplicação das mesmas em situações diferentes com pessoas diferentes;
* Deve ser ter um lugar bem estruturado, qualquer alteração pode provocar uma crise;
* Os locais devem ficar claros;
* Quando chegar a escola deve ser recebida (inicialmente) pela mesma pessoa – Cumprimentando e chamando pelo nome;
* A programação deve ter um ritmo constante, conter canto, atividades que valorizem a organização do comportamento,atividades para o desenvolvimento de habilidades, educação física e programação escolar compatível ao desenvolvimento.
* Necessitam de atendimento individualizado mas, para que sejam estimulados precisam que participem de grupos;
* Crianças deficientes bem comunicativas pode ser a melhor opção;
* Estejam preparados para o retrocesso;
* É importante espaço para a criatividade, aproveitando algumas iniciativas
* Não podemos esquecer que apesar de todas as suas limitações os autistas podem ter habilidades tão raras e especiais que não poderíamos imaginar que tivessem!

2 comentários:

maosquefalam_aneteblogspot.com disse...

Foi uma excelente pesquisa para este assunto, pois percebo que é muito difícil trabalhar com essas crianças. Parabéns.

Unknown disse...

Muito bem explicado,sou mãe de um moço autista com 35 anos se eu tivesse conhecimento qdo ele era criança, hj eu não estaria sofrendo com tantas sobrecargas.

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